quinta-feira, 14 de outubro de 2010

. Aquilo que não se pode mensurar .

Havia então
as paixões coléricas
e os brados de amor
confundiam-se e dissipavam-se
num só sorriso branco de dobradura
Em rubras e salobras letras
E isto ninguém jamais vai me furtar

Ela conta
distorce, fomenta e se safa
Há balões por toda parte
fez da tua língua
a dela
se diz prima-irmã da verdade

E das minhas palavras
retirou as aspas
mas o que é alheio
Ninguém pode nomear

Eu desconheço a sua graça
Como chamam os poetas
ou se já teorizaram os cientistas

Mas o peso que me causa
Me priva de esquecê-lo
O seu toque acaricia o vácuo que carrego em mim
com uma brisa
Isto é o que sinto

Produto e produtor de tudo
que alimenta sonhos
enquanto faz da minha face
meandros de água salgada

E sei, é tudo que sei
que é puro
E nada pode sujar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

.Cárita.

Eu sempre dizia a mim mesmo: "um pouco de calma e com razão.. tudo melhora" no entanto, calma e razão nunca foram meu forte, mas o "sempre" me acompanhava a todo momento, talvez repetir esta idéia como um mantra me acalentasse, uma mentira repetida sem parar poderia se tornar verdade. Eu gostava de acreditar nisso.
Apesar de saber que esta falássia, era redundantemente: uma mentira.
Ela sempre me acompanhara e ela sim jamais me faltou. E não digo com um pesar moral não, confesso que ela já me foi cúmplice por diversas e divertida também.
Enquanto eu tentava inultimente me enganar, logo chegou o dia em que nem eu, o feliz pobre-coitado inverídico já não sabia o que o era ou não.
Não tive calma. Como sempre, mas me acostumei com esta minha vida loquaz. E com ela.
No entanto ele, com ele eu pensava ter me acostumado, pensava ter amado, pensava tantas outras coisas que acreditava, desejava, odiava e abraçava numa força, um misto de não me deixe e de te faço parar de respirar, a falta de calma e razão, usuais, desdobraram-se, claro na única coisa que poderia ser e seja para brigar, desejá-lo ou beijá-lo vigorosamente era sempre ele que me vinha a mente, vivo ou não.
Não sei se ele existe, se é fruto da minha projeção ou se eu sequer cheguei a pensar nele, tavez estivesse tão cercado mim que o deixei ali disperso as minhas vontades ludibriosas e doentias...
Talvez o pensamento também me falte...pro inferno tanto eu, eu, eu....!!
Ah..."um pouco de calma e com razão tudo melhora".

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

. Traquejo .

Não que eu goste da melancolia ou que me sinta mais poético assim, mas ela toma conta e de alguma forma tem que se manifestar, se o meu corpo mal é minha morada quem dirá dela que é ainda mais densa. Então eu mau e porcamente vomito-a sempre assim e assim sempre só sombras e tudo aquilo que eu pretendo sê-la aparece.
Em seus trânsitos, ela que não é pertença de ninguém nem se prende a um só, há sempre uma parada mais prologanda num morimbundo, ah isso há! Me reconheço num dos tantos e ela tripudia feroz, uma vez que não há resistência, não ter nada deixa vago um grande e convidativo espaço para ser melancólico.
Nós, os morimbundos nos sentimos um pouco mais nobres com ela, nos tira o ar de coitados e dá até uma beleza estranha. É o que dizem eles nos bares depois da fase dos risos e já na pretensiosa discussão filosófica da madrugada. É aí então, que sempre um dos nós toma corpo aos olhos dos eles, eu já não vejo beleza no espólio dela, não a estranho nem é como amiga que eu a tenho, pra mim é como um traquejo, quando ela aqui se estaciona sempre um trago e um gole me são ofertados depois de uma confissão morimbunda e melancólica.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

. Ouro de Tolo .

É a tua voz
teu tom dúbio
fraco e arrogante
É ela quem mascara

É a tua pose
tua estirpe moldada
atraente e oca
É ela quem ludibria

É o teu rosto
teu cenho fechado
magoado e bestial
é quem te entrega

É a tua mão
ora amiga, sempre armada
É quem me marca
e o mata em mim

sexta-feira, 23 de abril de 2010

. Ego nº 6 .

Não achou um nome
sequer algo que se aproximasse
que compreendesse
ou prendesse
aquele terror
aquele fato

Então perdeu-se
rendeu-se
foi só o topor
a falta de tato
o não-talento nato
de não se reconhecer
e se estremecer
diante do estranho
ameaçador e intacto
que o fita no reflexo do espelho.


terça-feira, 9 de março de 2010

. Apenas .

É só tristeza
Um pouco de água salgada
que brota impunimente
gota a gota
colhidas por mãos gauches
porém de grande destreza
no jogo de escondê-las

É só um pesar
que assola e abafa
inundando em lágrimas
um peito oco e póstumo

É só o medo
a tristeza
as gauches
o vazio e as lágrimas

É só
Sou eu
Sou só.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

. Votos .

Meu orgulho é tudo que tenho, é bem verdade, não é muito, mas ainda é meu.
É algo que nada nem ninguém pode sujar. Nem teu olhar em desdém que é tua marca e tua arte, ou tuas palavras, armas.
A melodia caia naturalmente dos teus lábios, menos uma nota, que pende e se prende, se nega, se cala e amarga pela tua soberba rídicula, esta sim, orgulho puro, de magnitude relevante e que julga, condena: piegas, raso e barato apenas o que eu mais tenho apreço.
"Eu juro a mim mesmo que esta será minha última decepção".
Repito "minha última decepção", insito "eu juro" e as degluto, as tomo como verdade absoluta, faço deste placebo o meu dogma e alimento do meu brio, frágil e transparente.
Já não penso em amor, nem poderia, não se ouve o tom negligenciado.
É só por necessidade.
Não é por me sentir só, eu sei...só preciso de você.