quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

. Naivete .

Dá-me um norte.
Um algo que me aperte, me embarace, me enlace
num elo que em desespero é o que aperta
e só isso, tão somente isso é o que segura.

Dá-me um "a".
Uma palavra, uma frase bem construída
sinestésica que me aqueça a cada sílaba
e me enebrie em águas salgadas de alegria

eu só peço uma oração, uma sentença
que não me puna
nem me deixe assim.

Dá-se apenas.
Doa-se e abre tua alma
joga fora todas as máscaras
te coloca e te aloca no meu peito
como me coloquei em tuas mãos.



segunda-feira, 30 de novembro de 2009

. Maior ou igual que o vazio .

Você jura
sistematiza
e resulta no incógnito "x"

A meia verdade
do conjunto das confianças variáveis
de juros irreais e inifinitos
aos dias
aos meses
aos anos

Logo revela teu produto negativo
tua verdade racional:
Cada um vale o que pesa
pois valem pelo o que têm.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

. Pontuais .

São elas que dão o parâmetro, a medida, que causam o desconforto de um "tarde demais", provocam os suspiros de um "ainda" e que aos vômitos confundem-se com um desesperado "nunca mais". Utilizaram-se do sol, das areias e por fim aliaram-se aos números, que nada mais são que seus comparsas graduais.
Elas se fingem de "meia" para então encontrar sua outra parte e de mãos dadas com qualquer vulgar algarismo se transmutarem em "em ponto".
Subdividiram-se pelo mundo e se revesam em cada parte do globo todas as 24 matutinas, vespertinas e noturnas que se deleitam infinitas ao assistirem ao breve término de cada um.
E se despedem ao nos dizer: " já é hora."

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

. Ode ao Ódio .

Sincero e iminente
é o veneno desejado
tal a fumaça tóxica
que com ânsia adentra o corpo
e se espalha
é contagioso

Os ingênuos o tomaram por pecado
quando em verdade é o herdeiro cínico
da dor

Rico como a ressaca do mar
Agressivo como o silêncio

É por natureza fiel
é só teu
e te consome por dentro e inteiro

sábado, 3 de outubro de 2009

. Aquela que se esconde do sol .

Incha-se em condecorações e títulos
Chamaram-na: "Bela", "Misteriosa"
A gatuna toma para si a luz alheia
E soberba corou-se "Majestosa"

Mesmo que seu brilho furtado
Traga a cor do primeiro perdedor
Insiste em altivamente exibir-se
de tempos em tempos
E alta permanece
Cheia de si

Ludibriou os enamorados
Que logo se tornaram seus servos

Mas não as densas
Ainda que líquidas e translúcidas
Que se negaram a reletí-la

E a cada vez que surge
No negro firmamento
A pretenciosa "Rainha da Noite"
Revoltam-se
Aquelas que agora chamaram-se Marés
E debatem-se em terras e rochas
Diante da circular presença

Também me nego eu
Ainda que pequeno e efêmero
E lhe entrego os em versos
"Eu não amo você".

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

. IV Bélica d'um casal .

- Porra! O que é que você tem!?
E pronto, puxou-se o gatilho.
Uma arma de destruição em massa, claro, é muito aquém, após o nascimento e morte do cogumelo, quando todo o pó à terra retornar, logo ali se vê, o pavio de pólvora que cintila ao sol e titila pequenos estalos que ansiosos aguardam por um simples- Caralho! Tô falando com você!Agora sim deu-se a largada e a bala percorre os ventos.
Nem os pés de Hermes, nem notícia ruim, quiçá os piolhos da cabeça do filho da vizinha alcançariam a merda do fogo naquele estreito caminho em pó sem meandros que se consumia visceralmente, ávido po ele, cheio de coléra e - ESTALO- Fez-se o medo, a ardência e o silêncio que se rompeu apenas com o som de uma lágrima viajante e solitária, que aqui jaz no carpete.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

. Perene .

Diz só uma vez
é o necessário

Não faça os dentes
as grades

E o silêncio
meu castigo

Não teme o peso
da palavra

Traz nos teus lábios
a chave

Diz que acredita
que deseja
que anseia
e eu espero.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

. A Passagem .

A Codificação era confusa, esparsa e tosca, só restava dúvidas e por mais que uma pequena fresta luminosa teimasse em passar pelo pequeno espaço lúdico de entrada, o seu corpo era robusto e eu precisaria impreterivelmente da senha; trespassar aquele homérico físico não era sequer concebível. Por mais que racionalizasse e tentasse me despir daquela veste romântica, os sentimentos de medo e apego eram botões em casas devidamente trocadas e surpreendetemente enraizadas. Me acometeu o desespero e em meio ao pranto essmurrei aquela porta; enquanto desejava ir de encontro ao que me impedia aquela massa rija, as lágrimas suplicavam por um só tanto de compaixão... as dobradiças daquela vigorosa madeira não se abalaram por um só segundo. Então recostei minha cabeça em seu torso enquanto tentava em desespero engolir meu soluço e meu orgulho.

domingo, 6 de setembro de 2009

. Lumus .

"Epifania" talvez?
Pois brotou como uma semente
mesmo com as raízes escassas
tomou de imediato seu assento

"Exaltação" cabe?
Foi quando as palavras tornaram-se moedas
e algumas possuiam o brilho d'um sorriso
repentino e sincero

Sim... "delírio"?
Como pôde um temperamento centrado
curvar-se diante d'aquilo que se tem de mais desparelhado
por joguete, diversão, deleite?

Seria: "sonho"?
Foi-se com o arrebol
e deixou pelo caminho
as frestas do astro que insistem
e brilham e ofuscam e machucam.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

. Propina .

Em meio ao choro

não permite
não cede
nem concede

Diz que não e ponto

então chantageia
ameaça
encurrala

É quando abre os braços...

me aperta
me oferece os lábios
e me leva

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

. Simples Assim .

Eu te amo!

O amo em camas alugadas
E nas horas a fazer nada
Onde sua companhia
personifica a semântica da palavra tudo

O amo nas palavras ditas
E n'aquelas em que teu olhar as traduzem

O amo no encaixe do teu colo
e dos nossos corações
Simples assim: eu te amo.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Breve conto d'um sovina

Os olhos eram pequenos e opacos
Traziam muita história e um quê de melancolia
Abriu-se um sorriso sincero que não veio só.
Adiantaram-se palavras tímidas que o acompanharam e que logo se esvairam pelo vento
sem a menor resistência.
Sua cabeça ansiava uma resposta minha que não veio, escondeu-se.
Só percebi aquele corpo franzino e moribundo
que nada me pediu, em nada me incomodou.
Que se contentaria com uns tantos dentes à mostra e um pequeno gesto afirmativo.
Mesquinhamente, a privei dele, por não ultrapassar o muro de sua pobreza
privilegiei sua dor, não pude notar sua história, suas palavras
e fiz das lágrimas companheiras do meu egoísmo e miudeza.

terça-feira, 21 de julho de 2009

. própio alimento próprio .


Um após o outro
Degluto-os

incessantemente
deseperadamente

Ainda oco
insito

tenros
semi-vivos
tão meus
tão prórios

Não me sacia

mordo
rasgo
destroço
me consumo
e me encontro aos pedaços

quarta-feira, 8 de julho de 2009

I.L.Y.

O sol nascente da tua face
Onde está?

Traga-o novamente
Radiante e crítico

Dissipe estas nuvens

Ou vais tropeçar nos teus lábios
pelo fel de tuas palavras

E não é este meu anseio

Quanto mais desejo o seu bem
Mais egoísta me torno

Pois assim é teu sorriso
Golpe certo ao meu coração

segunda-feira, 22 de junho de 2009

. Ter .

O Sol
inevitavelmente
Surgirá amanhã
E me causará a dor, digna
Daqueles que não são amados e amam
Daqueles que não sabem, mas amam
Daqueles que não sabem amar

Seus raios incomodarão meus olhos
E só deixarão os rastros das lágrimas
Elas,
Únicas companheiras e provas
Da dor que o Amor pode
E costuma nos causar

Clareará tudo ao meu redor
Como teu sorriso fez ao meu coração
Que julga amar-te tanto
A ponto de não mais caber em si

Mas, impreterivelmente
O Sol partirá
E as lágrimas novamente correrão
E finalmente me levarão ao mundo onde eu posso ter você.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

. O fruto .


Traz na mão os ramos
Balança-os ao sobor do vento
e conte-os um segredo
à eles cai bem um segredo
de lá não sairá ( e dizem )
gostam disso
passa à eles o que sabe
e principalmente
.
o que teme
.
Traga-os de novo ao seio da terra
Deixe que lá se finquem
E saberás onde encontrar
aquele amigo que nunca o traiu
Quem sabe então
Não precisarás mais dar seus sorrisos aos outros
e guardar suas mágoas só para si.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Afável

Na semântica
Perdeu-se no tempo
E perdeu tempo em sê-lo
Na prática
Nada transparece um sorriso de cristal
Quando o coração está despedaçado.